Sementes históricas do chocolate (parte I)
A origem – As deliciosas propriedades do chocolate são conhecidas há muito, muito tempo. Os olmecas, habitantes das planícies ao sul do atual México e da Guatemala, já por volta de 1500 a.C. consumiam regularmente um tipo de chocolate líquido. Os maias e os astecas, mais tarde, passaram a tomar uma bebida feita a partir dos grãos do cacau, considerada sagrada por eles. Torravam as sementes e as misturavam a iguarias, como pimenta, mel ou uma base de milho fermentado. Claro, era um sabor bem diferente do que conhecemos hoje.
Além de ser usada na feitura de chocolate, a semente de cacau foi também adotada como moeda e tornou-se objeto de troca em diversos mercados. Entre os astecas, povo abstêmio, a bebida tinha o aval de guerreiros e da nobreza, entre outras razões, justamente por ser não alcoólica. O cacahuatl, como a chamavam, era bebido frio e preparado à moda maia. As sementes eram trituradas, pulverizadas e deixadas de molho. Adicionava-se um pouco de água e o preparado era ventilado, filtrado e coado. Entornava-se o líquido de uma vasilha a outra repetidamente, para formar uma camada de espuma.
Toda bebida feita com chocolate, anteriormente à conquista do Novo Mundo, era preparada dessa maneira e consumida amarga e fria. Em fins do século XVI, o cacau encontrou outro produto originado de cultivo adaptado. O açúcar chegava às Américas por um longo processo de transplantação continental e oceânica: a cana-de-açúcar saiu da Ásia para desembarcar em Santo Domingo e, por fim, no México. Daí tem início o preparo do chocolate quente e doce.
Deleite europeu – O chocolate alcançou a Europa com o comércio feito pelos espanhóis. Em 1554, frades dominicanos levaram uma delegação da nobreza maia para visitar o príncipe Felipe, da Espanha. Entre os presentes ofertados à corte, a oferenda mais valiosa foram recipientes repletos de chocolate batido. A partir daí, tido como um alimento especial por seu valor nutricional, somente mulheres, sacerdotes e nobres inicialmente o consumiam. Em meados do século seguinte, o chocolate já se estabelecera como bebida de elite na Europa e América espanhola.
Em grande parte de sua longa história, o chocolate foi ingerido em sua forma líquida. E foi assim que logo ele se difundiu pela Europa. No começo foi empregado como curativo e, em 1753, a árvore do cacau recebeu o nome científico de Theobroma cacao. A primeira parte, designativa do gênero ao qual o cacau pertence, veio do grego (“alimento dos deuses”). O termo cacao, utilizado no Novo Mundo, foi reservado à segunda parte, como nome da espécie.
Após período de muito sucesso, ao final do século XVIII o chocolate viu-se associado à decadência, à aristocracia e à Igreja Católica, principalmente aos jesuítas, o que o tornou malvisto a pensadores iluministas, homens de negócios de crença protestante e políticos radicais, então apreciadores do café. Contudo, o século seguinte dará novo rumo ao mercado de chocolate, quando se tornou um produto manipulado por químicos e divulgado ao grande público consumidor. [continua na próxima postagem]